terça-feira, 14 de junho de 2011

A Piracema de Piraju



(Olivier Viana)

Por mais de 10 anos, milhões de peixes foram capturados e transferidos diariamente para parte superior da represa de Piraju (SP), durante a piracema (período da reprodução de espécies migratórias). Na ocasião, aquele era o único obstáculo à subida dos extensos cardumes existentes no Rio Paranapanema, em busca de local seguro para a desova. Trabalhavam duas equipes e no mínimo doze homens, atuando até à noite para capturar também as espécies de hábitos noturnos. Eram usados tambores, cabos, carretilhas e tarrafas. O processo só parou em 1971, ano em que a Companhia Luz e Força Santa Cruz, a concessionária da geração de energia elétrica no local, construiu a primeira escada para peixes nesse rio.

Piracema ainda atrai turistas

Entre os dias 11 de janeiro e 27 de fevereiro (47 dias) daquele ano, foram transferidos 1.810.735 exemplares de diversos tamanhos, sendo 815.500 piaparas, 460.000 mandis, 523.800 lambaris, 4.530 curimbatás, 2.794 campineiros, 2.039 piavuçus, além de cascudos, tabaranas, dourados e piracanjuvas. O espetáculo da piracema atraía inúmeros turistas, até de regiões distantes. Atualmente, é possível observar a migração dos peixes pela escada instalada ao lado da ponte Nelson de Godoy Pereira. O acesso é permitido em finais de semana.

Combate à pesca predatória

Aquela não foi a única iniciativa do município para preservar a fauna do Paranapanema. Em 1956, por exemplo, a prefeitura lançou nesse lago milhares de alevinos de tilápia e de carpa, adquiridos da Secretaria da Agricultura, em São Paulo, e de criadores particulares da região. Também mantinha fiscalização nessa área. Um relatório da “Fiscalização de Pesca”, assinado por Miguel Mário Napolitano, Diretor de Obras e Planejamento do município, registra a apreensão de duas tarrafas, oito redes e dois covos, em apenas dois dias (19 e 20/07/1970). Era evidente a preocupação das autoridades locais também com a pesca predatória.

O idealizador e principal responsável por essas medidas foi o ex-prefeito Joaquim Ottoni da Silveira Camargo, “Quinzinho Camargo”, que exerceu dois mandatos, nos finais das décadas de 50 e de 60. “Ele próprio dirigia o jeep da prefeitura quando íamos buscar os alevinos”, comenta Miguel Mario.

Defesa do rio continua motivando

A preservação do rio em Piraju teve outras interferências do poder público municipal e da comunidade. Um grande movimento popular e regional impediu que indústria potencialmente poluidora se instalasse às suas margens.

Anualmente, já há algum tempo, a comunidade se une num trabalho simbólico de “limpeza do rio”, envolvendo populares, canoístas e mergulhadores.

Em 2002, foi tombado o último trecho ainda não represado do rio, “único trecho vivo do Paranapanema” (7,15 km, menos de 1% de sua extensão total); foi criado um parque ecológico às suas margens e a prefeitura chegou a pleitear do IBAMA a proibição temporária da pesca profissional nos 40 quilômetros que separam as represas de Chavantes e de Jurumirim. Um ecologista, incentivador da pesca esportiva, ali colocou cerca de 600 alevinos de dourado.

Laboratório municipal de alevinos, em fase de testes
Também em 2002, a prefeitura assinou convênio para implantação de um programa pioneiro do governo do paulista visando a incentivar a pesca amadora e melhorar a renda de pequenos proprietários rurais da região. Só em Piraju, foram investidos R$ 100 mil na construção de quiosques de informação turística e na montagem de um laboratório para produção de alevinos de espécies nativas, O objetivo, também, é restabelecer o equilíbrio ictiológico, promovendo o re-povoamento dessa parte do Paranapanema. Concluído no final daquele ano, o laboratório ainda não funcionou. Só agora entra em fase de testes para avaliar as melhores opções de aproveitamento e, também, possíveis convênios com entidades especializadas.